quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

11 coisas para fazer sem facebook #1


Férias. Angústia neurótica. Angústia de liberdade.

Não vou me delongar sobre o que exatamente sinto nessas horas; apenas que férias é um tempo de descanso e de reflexão. Na realidade, se for para radicalizar, todo momento é um bom momento para se refletir, mas não vou ditar regra sobre o que eu mesma não tenho feito, vou? Férias possuem a propriedade de te liberar para pensar sem o limite dos afazeres cotidianos, e por isso são tão especiais e necessárias. Não é só descanso, entendem: é tempo de renovação. 

Algumas pessoas consideram angustiante - a tal angústia de liberdade. Quando a coisa que você faz se torna tão parte de você que, sem esse trabalho, você não é nada. E, como disse uma vez, nem sempre essa coisa que te preenche é boa - pode ser um tumor, um câncer psicológico, como um emprego que não satisfaz, um cotidiano infeliz. Mas, se você agüenta, a coisa te preenche, só que também tortura.

Então vêm as férias - elas te libertam, por algum tempo, daquilo que te prende. Use com sabedoria.

Uma das providências que tomei foi não entrar no facebook. Já perceberam o tempo que perdemos com facebook? Certo, você pode ser justamente aquela pessoa de coração hipster que não gosta de facebook; provavelmente não tem conta nele e tem sobrevivido muito bem assim enquanto insiste para pessoas te enviarem coisas importantes pelo defasado e-mail - e fica morrendo de raiva quando coisas importantes são compartilhadas somente em grupos facebookianos, o que te exclui do circuito. Também você pode ser aquela pessoa que tem conta no facebook justamente por causa desses grupos de trabalho ou de estudos, entra nele cinco minutos por dia para checar as atualizações nesses grupos e sai com toda a tranqüilidade do mundo; daí dá aquele sorriso jocoso para quem fica o dia inteiro no face postando groselha e diz "não entendo quem perde tempo com isso, facebook é uma droga".

Gostaria de ser assim - embora acredite que quem não perde tempo com facebook certamente o perde com outra coisa igualmente inútil - mas não sou. Já perdi  muito tempo em facebook.

Se você, como eu, não for do tipo hipster citado, e muito provavelmente NÃO É, você já perdeu tempo SIM no facebook. Já ficou horas e horas navegando no seu feed enquanto conversava com amigos naquela janelinha minúscula horrível e sem graça (saudades, msn); já ficou fuçando na própria timeline e investigando se ela é visível para estranhos; já ficou mudando fotos; já ficou caçando pessoas e lugares aleatórios apenas pelo prazer do nada fazer; já levou eras e eras clicando em mais e mais links, odiando comentários discordantes dos seus, stalkeando pessoas, dando pitaco no post do amiguinho, curtindo vídeos de gatinhos, de cachorrinhos, de coisas legais, curtindo posts curtos e egocêntricos de amigos, curtindo fotos com frases filosóficas de amigos, curtindo páginas com imagens bonitas, enfim... quando tempo perdido.

Quero dizer: fazer isso dez ou quinze minutos por dia até vai, pode ser relaxante. Agora, fazer isso por duas horas ao dia em casa, ou no celular durante todo o trajeto do ônibus (não é o meu caso), ou em sala de aula, ou no trabalho... eu ainda sou do time que não fica on-line eternamente pelo celular e já sei que, mesmo assim, perco tempo; imagino, então, quem usa esses celulares e alterna entre facebook, twitter, instagram, whatsapp e Candy Crush, e fica sempre em off da vida olhando atualizações no facebook e postando as próprias fotos ou escrevendo e compartilhando coisas dignas de "curtidas"... é, em excesso, uma perda de tempo, e sei que nisso não chego nem perto de estar sozinha. Não gosto de como reflexões e ações acabam perdendo espaço para essa vitrine que é o facebook. Uma vitrine que já existia no orkut - apesar de o formato orkutiano parecer mais um cantinho de acervo pessoal do que uma vitrine, ele já era uma vitrine; e essa vitrine já existia em outros sites. Essa vitrine pode até existir aqui no blog, mas acho que aqui, no meu caso, é diferente: eu penso bem mais antes de postar, e não é um processo tão rápido e superficial, prolixa e caótica que sou.

Escrever num blog é algo mais rápido do que escrever um livro e mais lento do que postar assiduamente no facebook ou no twitter. Porque a idéia é ainda compartilhar coisas, como uma vitrine, só que é um processo mais "pensado", com mais etapas, com mais labor. Tem coisa que não posto no facebook simplesmente porque gosto de elaborar mais, e o facebook é meio coletivo demais; quando você posta, é ingenuidade pensar "a página é minha e eu posto o que quiser" porque vai aparecer nas atualizações alheias, e a outra pessoa é quem precisa ter o trabalho de deixar de te seguir ou de cancelar a visualização do seu post, se for o caso. É como se cada atualização sua fosse dar uma cutucada na cara de outro, dizendo "Eu tô aqui! Eu tô aqui!", o que não ocorre em um blog - aqui eu posto, e quem quiser vem ver. Isso quando eu posto atualizações do blog no facebook, o que é raro.

Acho que já deu para sacar como o uso de redes como o facebook, em excesso, atrapalha a fluidez da ação e da reflexão e funciona como um massageador compulsivo e vazio de nossos egos, certo?

Então pensei: já que estava entrando em férias acadêmicas e em um período de reflexão, eu precisava, antes de mais nada, largar o facebook. Se eu quisesse dormir ou fazer alguma coisa, precisava fazer isso, precisava olhar para o meu dia e perceber que o facebook não tinha feito parte dele. Então inventei de fazer coisas antes de entrar no facebook. O que pode soar uma bobagem: ele faz parte de nossas vidas há, o quê, uns quatro anos só? Cinco, seis? Só que, por facebook, eu quero me referir a todo e qualquer aplicativo virtual de interação social. Eu quero eliminar essa coisa de ter que necessariamente comentar ou compartilhar um pouco de tudo, até do chá que você fez há duas horas. Eu quero pensar em momentos de satisfação, reflexão e planejamento que não envolvam a aprovação de estranhos, seja via facebook, instagram, whatsapp, o que for.

[Estranhos = todo o mundo que não souber a cor da sua escova de dentes.]

Quero repensar a possibilidade de fazer coisas por fazê-las, sem pensar no compartilhamento compulsivo. Sem pensar em postar fotos daquela viagem, daquele passeio, daquela comida; quando a gente vê a foto da comida no insta ou no face, é lindo, mas daí a gente imagina o processo de realização da foto: o garçom vem, traz a comida, o prato tá uma lindeza e, em vez de admirar, comentar com o garçom, com seu parceiro, ou simplesmente COMÊ-LO, você vai lá e tira uma foto, filtra cuidadosamente e posta com hashtag

E as curtidas vêm. E os comentários mais vazios do que as falas das personagens de Brave New World e Fahrenheit 451.

[Eu não sabia que férias deixavam pessoas ranzinzas.]

Isso meio que me dá uma crise, mesmo eu não tendo instagram, porque é meio vazio - como as pessoas contemplavam as coisas há mais de cinco anos?

Será que ainda somos capazes de contemplar em vez de só olhar?

Imagine fazer algo sem ter que necessariamente contar para todo o mundo. E, mesmo assim, buscar um sentido nesse algo. Eu sei que é difícil se você for geminiano ou tiver nascido nos últimos tempos, mas pode haver sim um sentido existencial em fazer isso. E fiquei pensando em algumas coisas.

Como voltar a fazer essas coisas buscando um mínimo de exposição virtual? Como ficar off-line?

Na realidade, mesmo no computador, existem dezenas de atividades fora do circuito trabalho-escola que podemos fazer sem, necessariamente, entrar no esquema facebook-twitter-instagram-whatsapp-qualquer-outro-treco-que-estiverem-usando.

Então fiz a brincadeira de selecionar algumas coisas de forma aleatória para se fazer sem entrar nessas mídias!

1. Ver um blockbuster no netflix.


Isso é fácil, por isso foi o primeiro item listado. Nem precisa ser filme: pode ser série, o que tiver. Aquilo que você tem vontade de ver sem compromisso e principalmente sozinho; assim você não precisa se justificar, se defender, tentar encontrar uma boa razão para querer ver justo aquilo. Apenas veja, se distraia, curta. Sinta prazer no que você está vendo. No meu caso, fiquei vendo Gilmore Girls, Charmed, 10 Things I Hate About You e Clueless. Funcionou. Acho que é um bom passo para ver quando você está meio perdido, sem sabe o que fazer, em dúvida se dorme ou meramente existe; é um anestésico.

Costuma ser bom porque é algo passivo, nem preciso pensar. E tem começo, meio e fim, então posso recuperar o controle e dar um fim no excesso de anestesia.

E não é bem algo que eu tenha a necessidade de contar para alguém. Posso até fazer isso, posso até usar aquele aplicativo que compartilha esses filmes no facebook, posso pensar em algo legal para dizer a respeito, mas, no final, não é necessário. Se o sentido que permeia sua escolha por esses filmes for fútil ou profundo, não importa, é algo seu. Não há o que explicar. É uma chance para se anestesiar ou para se analisar - sem a aprovação ou intervenção de terceiros. Você não precisa nem de quem diga que também ama esses filmes e também não precisa de quem os deteste. E fuja de quem te encher o saco criticando-os e dizendo que não esperava que você (ohhhh!) fosse capaz de perder tempo com isso. O tempo é seu.
E você sempre vai ter razões diferentes para optar por eles, e só.



2. Ver um filme "cabeça".


Cloud Atlas: meu queridinho.

Aqueles de conteúdos mais complexos. Quando você desliga o filme mas sua mente continua trabalhando nele em off, encaixando pedaços do quebra-cabeça que não foram encaixados a tempo no desfecho. O namorado é simplesmente louco por esses filmes - eu também sou fã, mas como também adoro um monomito bem-contado, um clichê blockbuster da Disney, ele acaba sendo mais exigente do que eu nesse quesito.

Então, para deixar claro: aqui, filme cabeça não é aquele cult francês com protagonistas magricelas dos cabelos pretos que fumam um cigarro calmamente enquanto não dizem coisa com coisa: é todo e qualquer filme que foge a um padrão e te obriga, portanto, a pensar com ele, e não apenas a ser conduzido pela narrativa. Não precisa ser aclamado pelos hipsters da vida, apenas ser algo que exija de você um papel ativo. Acho que seria melhor chamar isso de "filme cabeça".

Eu não gosto muito de discutir filmes cabeça ou os filmes cult - aliás, acho que gosto porque adoro discutir e debater, só estou em uma fase meio lacônica. Mas é que essas discussões nunca são tão produtivas na prática - é ótimo "angariar" sugestões de filmes em conversas com amigos e ouvi-los fazer uma sinopse que te atraia, mas discutir filmes em específico... acho improdutivo. A menos que você tenha acabado de ver o filme com a pessoa - aí é muito legal! As percepções estão fresquinhas, o grupo é pequeno - uma dupla ou um trio -, provavelmente são pessoas próximas, a coisa até que flui.

Em sala de aula, com mais de trinta pessoas, é uma droga, já aviso. Grupo grande demais, abstração demais, e vão viajar na maionese ou criticar pessoas que viajam na maionese.

Mas um dos motivos por que não gosto muito de discutir esses filmes é que, muitas vezes, a profundidade deles se liga com a sua profundidade pessoal, e isso não é tão fácil de evocar mesmo em uma conversa com interlocutores deveras eloqüentes. Prefiro pensar primeiro, pensar e pensar, depois escrever e depois conversar sobre aspectos finais da percepção. Somos multiversos distintos, e um filme que pretende ser complexo é, na realidade, uma extensão do multiverso de alguém que se liga ao seu de algum jeito, e uma discussão pretensiosa deforma a coisa. O formato "debate" não ajuda - acho mais produtivo cada um pensar sozinho, escrever, depois todo o mundo ler o que todo o mundo escreveu e, depois, fazer umas considerações finais. Elaborar um filme junto não costuma funcionar bem, na minha opinião, porque ele vai, em primeiro lugar, te tocar no fundo da sua essência, e tentar fazer isso com alguém forçando a barra do lado é chato e ineficaz.

Então: troco sugestões de filmes legais, ouço bastantes sinopses, pego muitas sugestões, faço uma lista com essas sugestões e vou vendo, um a um. Mas não discuto o conteúdo em si. Posso expor ou ler a exposição de alguém, mas não discutir.

Por isso esse item é um exercício antifacebookiano legal: você trabalha a mente, ela fica mais ativa que em um filme mais despretensioso, e você se conhece mais. E a coisa vai tão fundo que compartilhar isso se torna vão... quando você compartilha em uma rodinha cult, os comentários conseguem ser mais vazios do que seria o silêncio - por sinal, carregado de significação:

- Nossa, o filme mexeu com a minha cabeça, meu cérebro derreteu!
- Ele é foda, velho, naquela parte que mexeu com tudo, abalou tudo ali, foi mó desconstrução de tudo o que tinha, velho... você sente os conceitos caindo por terra, desconstrução total, meu.
- Cara, viajei legal naquela parte, nuuu, pensei um monte de coisa...
- Foi bem simbólica aquela parte em que isso aconteceu... [o problema do "símbolo", minha gente, é que ele pode significar coisas diametralmente opostas, então vai entender o que era mesmo o tal símbolo no filme...]

Já tentei discutir. Mas hoje morro de preguiça. Então, aqui temos um excelente item para se praticar sem facebook!

Uma alternativa a filmes cabeça: palavras-cruzadas. Amo! Aquisição de vocabulário, lógica, tudo isso com descanso!
E Sudoku também é válido.

3. Ver um documentário, tipo Cosmos.

Lost in Translation: esse é um dos poucos filmes melancólicos que eu veria mais de uma vez, de tão legal, e a Scarlett estava linda, linda, linda, mais linda do que em Avengers.

Na verdade, dá pra trocar esse item por vídeos longos e educativos - como aulas virtuais, documentários específicos e palestra de gente fodônica. Tem de tudo no youtube e em sites especializados nisso - na realidade, o que vale é escolher um assunto de seu interesse e dar o play. A vantagem de colocar numa língua desconhecida é aprender e exercitar a língua; já na conhecida é deixar o vídeo rolando enquanto você faz outras coisas - a atenção não será a mesma, mas também vale a pena, entre uma música e outra. Alguma coisa acaba entrando, e sua mente vai trabalhando. Além de vídeos no youtube, dá pra ver documentários no netflix e ver vídeo-aulas universitárias no Veduca!

4. Meditar.

Acho que esta deveria ser a segunda coisa a ser feita em ordem cronológica, depois da anestesia do netflix. Se você é do tipo que tem a mente muito ativa - não pode cair um fio de cotão na sua frente que sua cabeça explode de conexões -, então meditar é o melhor a ser feito, se o seu desejo for completar essa lista de afazeres "solitários". Ela ajuda a controlar a ansiedade e você se concentra em uma atividade de cada vez - o que é ótimo e recomendável para tudo nessa vida, se você não for um jogador profissional de League of Legends.

Lembrando que meditar não é "pensar em nada" - é mais um desapego de pensamentos. E desapegar-se a pensamentos e seus ciclos é um descanso mental. Quando eu medito, eu sinto músculos de cuja existência eu até então desconhecia ficarem relaxados, para vocês sacarem a tensão da criatura que vos fala. Tudo de que você precisa é um lugar tranqüilo e arejado, onde não estará sujeito a interrupções; aqui tem um vídeo explicando técnicas simples para o dia-a-dia e aqui uma música relaxante boa para esses momentos. No quesito música, normalmente coloco minhas preferidas celtas. :)

5. Ler parte daquele livro preferido do momento.


Se você for um leitor assíduo, nem precisa desse item. Mas é bom lembrar: em tempos de facebook, é um prazer gigantesco simplesmente deixá-lo desligado, largar o computador e ler - seja em livro real, seja virtual. Limpa a visão.

Talvez não existam pessoas que não gostem de ler, apenas aquelas que não encontraram o livro certo - existem tantos tipos! Ler um livro ainda é bom, na minha opinião, não porque sejam um atestado de cultura superior ou coisa assim; é porque é um exercício, muitas vezes, individual, que exige um tempo maior de concentração do que um simples artigo de internet. É um exercício de atenção prolongada que melhora o vocabulário e amplia o conhecimento gramatical. E, mesmo falando em laconismo neste post, sei que ser capaz de se expressar a contento é algo importante. O modo como você se articula é o modo como se revela para o mundo, e um exercício prolongado de leitura contribui de forma significativa para que essa articulação aflore com mais flexibilidade; como ler livros influencia no seu modo de se articular diante do mundo, então muda literalmente seus pensamentos, já que pensamentos são articulações baseadas no uso de linguagem. Ler livros muda seus pensamentos.
Isso porque nem entrei no mérito do conteúdo do livro em si!

É mais uma ferramenta de conhecer profundamente relações humanas, já que o livro é sempre uma parte muito clara da mente de alguém.

E é um exercício, por si só, prazeroso. É como viver várias vidas em uma!


6. Ler algum conteúdo de interesse.

O exercício da leitura tem suas vantagens - antes falei da vantagem que o livro tem sobre os breves artigos de revista e de internet, mas não de modo a menosprezar esses veículos mais rápidos; é sempre bom adquirir conhecimento sobre alguma coisa, mesmo que seja um verbete de wikipédia ou um artigo sobre uma determinada descoberta científica: vale a pena. É uma alternativa interessante ter alguns sites favoritos e ficar navegando neles para descobrir, por exemplo, a freqüência de evacuação de um tamanduá. Ou ler sobre árvores lingüísticas...



7. Tirar o corpo da inércia.



Muito bom para quem trabalha muito a mente. Quero dizer, já perceberam como passamos o dia sentados? É sentado na frente do computador em casa, é trabalhando sentado, é estudando sentado - é caçando um lugar para sentar no ônibus, isso se você não tem um carro onde você dirige sentado (como mandam as normas de habilitação).

A menos que você trabalhe em pé, o que é tão ruim quanto. Aí não tem nenhuma cadeira - já trabalhou no comércio, em loja? É desumano. Mal há onde sentar para você esteja sempre ativo atendendo cliente. Suas pernas querem te esfolar vivo no final do dia.

Bom, depois que passa, é um trabalho que faz bem para a alma; então, se você está na fase do sentar perpétuo, talvez já tenha refletido sobre como seu corpo está condicionado a isso. Quais músculos atrofiaram no processo? Como vão o iliopsoas, o latíssimo do dorso, o trapézio?  E a coluna, vai bem? Tem alguma dor remanescente do processo do sentar perpétuo? Seu computador fica na posição ergonomicamente recomendada ou é só firula? Você às vezes se sente o gordo no porão de tanto que passa sentado, construindo montanhas e montanhas de restos de refeição ao redor do pc?

O negócio é tirar o corpo da inércia, meu amigo. E fazer isso é muito mais versátil do que diz o santo clichê. Acho bem "burguês", viu? Assim, penso rapidamente sobre os séculos e séculos de adaptação física entre o nomadismo, a caça e as batalhas pela sobrevivência, todas as doenças que deixamos de adquirir porque nos exercitávamos - até construir uma determinada sociedade no século XXI que faz tudo parado e sentado e que, agora, "burguesamente", precisa reservar um tempinho para preservar aspectos de um corpo que um dia lutou literalmente pela sobrevivência.

Fazer o quê... sintomas da contemporaneidade. Sintomas do sedentarismo.

Não gosto de academia. Não gosto de música alta, acho que ter um corpo sarado não compensa o suicídio auditivo, mas tem essa colega minha, super atlética e sagitariana, que certa vez me disse que também não curtia academia - até descobrir o esporte com que se identificava mais para então, a partir daí, buscar na academia um jeito de aperfeiçoar o corpo para praticar aquele esporte preferido.

Para quem ainda não sabe, eu era aquela última pessoa escolhida para o time nas aulas de educação física. Algo como Rachel jogando futebol americano em Friends, só que sem ser patricinha ou gatinha; algo como Bella Swan, só que sem ser epicamente disputada por vampiros e lobisomens. 

Mas eu não queria cair nesse clichezão do "pratique um esporte", sabem? Não é essa a idéia. A idéia é se levantar - ir para a padaria comprar guloseimas, andar sem destino, praticar yoga, plantar bananeira na cama. Tentar, de um jeito meio hippie, observar o próprio corpo, "desviciar-se" das posições cotidianas. Usar técnicas de relaxamento de tempos em tempos, não aceitar o condicionamento muscular cotidiano de mão beijada. Levantar-se a cada hora; preservar posições de descanso que respeitem o corpo; fazer técnicas de relaxamento, exercícios de respiração; correr aleatoriamente; esticar as penas para ir a algum lugar, evitar usar o carro sempre; dançar mais. Coisas assim.

8. Apertar seu namorado como se ele fosse seu gatinho de estimação.




E não deixá-lo fugir, claro.

9. Tomar chocolate quente.


Ainda quero ir no lugar que faz esse chocolate.

Ou 24 alimentos à sua escolha.

Pensei no chocolate porque ele me mantém calma, compenetrada e até relaxada sem precisar de cafeína. Mas o que vale é alimentar-se, e pensar no que se come e quando se faz isso.

É bom prestar atenção aos nossos hábitos alimentares, mas com cuidado aos dois discursos predominantes.

O primeiro discurso é uma ameaça simbólica à ordem da liberdade gastronômica. Ele parece querer destruir o prazer de comer e de se alimentar e relaciona o seu alimenta de forma intrínseca ao seu corpo com um conhecimento vazio permeado pelo vício ao emagrecimento e pelo culto ao corpo de plástico. Basta lembrar: você não é de plástico. Não somos. Fim.

O segundo discurso é quase o oposto: é uma veneração tão grande por comida, seja qual for, que o vício que ela causa  não é percebido. Algumas pessoas se dizem significativamente mal-humoradas quando estão com fome, e acho isso tão preocupante quanto a neura anoréxica-bulímica. Alimento deveria ser fonte de energia e de prazer, e não uma necessidade a ser saciada tão imediatamente que possa interferir de forma tão decisiva e rápida em nossa paz de espírito. Alimentos viciam, sim. Por isso é bom lembrar que ele deve servir ao nosso propósito, e não nós ao dele.

10. Ir a algum lugar interessante da cidade.


Praça Carlos Gomes, Ribeirão Preto - SP (foto de Elza Rossato)

Acho muito difícil encontrar um indivíduo que não queira viajar, nem que seja para a casa da avó. Mas quantos param para aproveitar o que já está ao alcance de seus olhos?

"Minhas cidade tem 10.ooo habitantes, fica para lá da ponte que partiu e nada tem para oferecer, Bárbara". Mentira. Sua morada pode não ser uma Paris, mas sempre tem algo a ser admirado nela, minha gente. Ao contrário da distribuição de renda, a beleza da Terra é bem democrática e transcende o que nosso olhar culturalmente restrito vê. Então sempre tem algo a se olhar, nem que seja o jardim da casa da frente. Sempre tem um cantinho, uma pracinha inabitada, uma vista que não precisa ser mandada para o Instagram - um lugar onde valha a pena estar e aproveitar.

Se está difícil pensar assim - se você mora numa cidade que nem é do estado mais legal do País e simplesmente não tem graça, tente ver pelos olhos de um forasteiro. Imagine a sua pracinha da infância sendo, sei lá, fotografada por um visitante e postada no instagram. É ridículo, eu sei, mas é um dos exercícios mentais que gosto de fazer e que me mostram como tudo é uma questão ponto de vista.

A praça do lado da sua casa pode não ser aquela ruela charmosa de uma cidade austríaca, mas quem disse que ela não tem seu encanto? A gente pode ter isso de menosprezar o ambiente ao qual estamos acostumados, mesmo - seja morando aqui ou em Paris -, mas porque não recondicionar esse olhar e retornar ao fascínio infantil? Procure e olhe como se fosse a primeira vez. Maravilhe-se. Não espere a oportunidade de viagem ao exterior aparecer para admirar o mundo, porque o mundo você já tem, desde que nasceu. O resto é só referencial.

Na minha opinião, se você não aproveita o que já está ao seu alcance, dificilmente vai aproveitar o que não tem no dia que você finalmente tiver. Porque não são os lugares ou as coisas, isso se trata é de você.

11. Produzir algo.


Sei de gente que nada produz, apenas é espectador da produção dos outros. É o cult da música, é o cult dos filmes, é o cult dos livros - vê, comenta e admira.

Também vejo gente que só faz poesia, mas que nunca lê - talvez a Hazel Grace, de The Fault in Our Stars, seja uma exceção, mas há sempre o poeta que não lê poesia dos outros...

É bom ter um equilíbrio nisso. Se houver apenas produtores, não haverá troca, apenas monólogos coletivos; se houver apenas espectadores, namoraremos clássicos tão distantes de nós, recheados de "tópicos de conversação que já não dizem respeito a nenhuma pessoa viva" (Jane Austen, A Abadia de Northanger, capítulo 5). E isso será idolatrar a idolatria de nossos antepassados, sem aproveitar o que temos hoje em  nossa cultura. [Ironia é eu criticar quem só fica preso aos clássicos utilizando um trecho retirado de um clássico da Jane Austen, mas tudo bem.]

Então, em vez de se achar o artista, o culto pelo que vê, ouve e lê, tente também produzir - vire um artista. Transforme o seu gosto em um processo ativo, faça-se gostar tanto de algo a ponto de produzir algo relacionado a isso. Nem que seja não fazer a coisa em si, mas virar um forte crítico - desde que seja um crítico menos azedo e mais construtivo!

Sei lá, permita-se expressar-se de alguma forma por meio da produtividade. Se você não faz isso sempre, com certeza sua arte não vai sair muito profissional, mas não é necessariamente sua profissão, certo? É um jeito de se expressar, de canalizar sua expressividade em algo material. Isso é um hobby.

Quando você lê algo de que gosta e resenha sobre, está criando algo, está se expressando. Se cria uma história sua, então, nem se fala. É tudo seu.

Faça isso, use esse tipo de expressão. Talvez seja mais saudável do que emitir opiniões em duelos aleatórios na internet. Mais produtivo, construtivo e prazeroso.



Bom essas foram as primeiras 11 coisas para fazer antes de entrar no facebook! Em breve postarei a parte 2 da lista!

E é sempre bom lembrar: o intuito é libertar a mente dos grilhões enferrujados que persistem na memória.


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