sexta-feira, 27 de junho de 2014

Escritores da Liberdade (Freedom Writers)




Inspirado na obra The Freedom Writers Diaries, composta por relatos da professora Erin Gruwell e seus alunos, Escritores da Liberdade é um drama estadunidense de 2007. Sua história é real, e é linda. 

Encontrei esse filme passando na televisão por acaso e não hesitei em ver. Não sei se eu estava muito emotiva naquela noite, mas chorei horrores. 

Primeiro porque adoro a atuação da Hillary Swank. A intensidade com que ela transmite cada momento é um acréscimo à sua beleza nada convencional, compondo um cenário que vive entre a ficção e a realidade, em uma bela dança para quem quiser sair do lugar-comum.

Foi dirigido e escrito por Richard LaGravenese, e acho que ele gosta da srta. Swank, pois também foi diretor e roteirista de "PS: I Love You" - em que ela também foi protagonista.

Eu esperei um drama bem hollywoodiano, com altos e baixos, mas não foi bem o que aconteceu.

Basicamente, a professora Erin (amo esse nome!) é novata e começa a dar aula para um classe de estudantes considerada inferior pela direção da escola; é uma turma fruto de uma iniciativa governamental de incluir jovens problemáticos na educação. Tudo para dar errado, certo? Professores desmotivados, alunos desmotivados, falta de verba... todos aqueles problemas que quem trabalha na área conhece muito bem. Os alunos vivem em uma realidade mais problemática e violenta do que a sala de aula, de modo que a evasão é alta; os professores se sentem agredidos e desmotivados, e o auge dessa estagnação ocorre quando a coordenadora do curso, interpretada pela Umbridge Imelda Staunton, mostra como simplesmente não empresta livros bons do colégio para esses alunos porque, segundo ela, eles os estragam.

Como proceder?


Erin é sonhadora, como um bom professor em início de carreira. Ela insiste. Determinada, sempre estimulada e inspirada pelo pai, ela procura se inserir na realidade de seus alunos. Após sua "saída a campo", ela compreende que não adianta ser uma professora convencional quando o negócio é dar aulas para meninos inseridos no mundo do narcotráfico e da violência doméstica e urbana. Como falar em literatura inglesa e Academia entre jovens que lidam cotidianamente com a morte, sem perspectiva alguma de sequer terminar o segundo grau?

Mas ela insiste. Ela arruma dois empregos para comprar livros para seus alunos - livros que possam estabelecer um contato entre ela, o ambiente acadêmico e seus alunos. Personalidades como Anne Frank servem como ponte para demonstrar que ela entende o universo deles e quer trazê-los para um mundo novo em que predomina uma perspectiva mais ampla. E os alunos, aos poucos, acatam essa sugestão, formando uma turma unida e apaixonada pelas aulas dessa professora.

De forma real e comovente, somos apresentados ao porto seguro em que essa sala de aula se transforma, e como esses alunos vivenciam altos e baixos; muitas vezes, eles ousam sonhar, mas a própria realidade cai como uma bigorna sobre suas cabeças, e alguns até pensam em desistir - pensam que a professora Gruwell oferece um sonho ingênuo. Mas é ao empenho de ambos os lados para insistir em um sonho comum, coletivo, que o filme nos prende. Ambos sentem essa conexão oscilar, mas ambos querem preservá-la, e isso culmina em uma sintonia linda e real.


A professora Gruwell arruma mais dois empregos para conseguir dar aulas decentes, e os próprios alunos, a partir de certo ponto, começam a se mobilizar para conseguir novas formas de integração e conhecimento. Eles aprendem a organizar e concretizar a própria determinação, transformando os sonhos em ação. Eles encontram esse ponto de equilíbrio.


Um típico drama ofereceria obstáculos, digamos, extremos a esse empenho, esse nado contra a corrente; eu imaginei a professora constantemente em maus lençóis, com professores egoístas e tradicionais boicotando de forma significativa seu trabalho - eu a imaginei sendo processada, imaginei a imprensa em cima publicando difamação e sensacionalismo, sabe? O drama cinematográfico de sempre.


Mas essa é uma história real. Então, como uma história real, não mostra vilões ou mocinhos. Mostra duas forças ancestrais e tão antagônicas quanto: a revolução e o conservadorismo. Existe uma ala acomodada na escola, conservadora e até preguiçosa que não entende a professora e não a quer por perto; uma ala que considera tudo aquilo que é feito na sala 203 não mais do que um castelo construído nas nuvens, incompatível com a realidade. Não são vilões: são pessoas do dia-a-dia, com motivos próprios e um incômodo conservador que não chega a ser um câncer - um calo, talvez. As oscilações e os obstáculos são reais, não exagerados. E isso é que há de mais de mágico.


A crise no casamento de Erin (sim, é casada!) é real. Os argumentos da professora Margaret Campbell são reais. Os obstáculos são reais o suficiente para mostrar que ninguém está completamente certo ou errado, e que você só pode ultrapassá-los se confiar nos próprios motivos. Erin não é a mocinha; ela é uma sonhadora, e precisa trabalhar duro e se manter firme para convencer os outros de que seu sonho é real. Ela precisa estar convencida disso.


Como é uma história real, é mais previsível do que ficções em geral, por isso o interessante não é o final em si, que não chega a ser surpreendente, mas a caminhada a ele. É imaginar que tudo o que o filme nos mostra pode realmente ter acontecido, e como isso é bonito. Como a realidade pode ser tão mágica quanto a ficção.

Os estudantes reais, a professora Erin Gruwell e Hillary Swank.

Como uma amante da escrita e dos ofícios de professor e terapeuta (porque Erin acaba sendo os dois), eu amei esse filme. Talvez porque, mesmo eu não estando num contexto violento como o desses jovens, eu tenha visto minha própria escola como um porto seguro, como eles passaram a ver.

É um filme que recomendo, caso um dia você esteja de bobeira, desejando readquirir motivação e sem vontade de ver blockbusters.

Se você quiser saber mais sobre a história, acesse aqui e aqui.


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