domingo, 9 de fevereiro de 2014

Perder.



Eu tive que ler para a faculdade, nesses dias iniciais de aula, um poema da Elizabeth Bishop chamado "One Art". Como o grande tema da disciplina de Psicanálise I é "Luto e Melancolia", nada mais justo do que ser introduzida a esse conceito com esse fantástico poema:

One Art
(by Elizabeth Bishop)

The art of losing isn’t hard to master;
so many things seem filled with the intent
to be lost that their loss is no disaster.

Lose something every day. Accept the fluster
of lost door keys, the hour badly spent.
The art of losing isn’t hard to master.

Then practice losing farther, losing faster:
places, and names, and where it was you meant
to travel. None of these will bring disaster.

I lost my mother’s watch. And look! my last, or
next-to-last, of three loved houses went.
The art of losing isn’t hard to master.

I lost two cities, lovely ones. And, vaster,
some realms I owned, two rivers, a continent.
I miss them, but it wasn’t a disaster.

—Even losing you (the joking voice, a gesture
I love) I shan’t have lied. It’s evident
the art of losing’s not too hard to master
though it may look like (Write it!) like disaster.

Elizabeth Bishop, “One Art” from The Complete Poems 1926-1979. Copyright © 1979, 1983 by Alice Helen Methfessel. Reprinted with the permission of Farrar, Straus & Giroux, LLC.

Source: The Complete Poems 1926-1979 (Farrar, Straus and Giroux, 1983)


Embora, como dizia minha professora de Antropologia, uma tradução seja sempre uma traição, aqui vai também a versão em português:

Uma arte

A arte de perder não é nenhum mistério;
tantas coisas contêm em si o acidente
de perdê-las, que perder não é nada sério.

Perca um pouquinho a cada dia. Aceite, austero,
a chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.

Depois perca mais rápido, com mais critério:
lugares, nomes, a escala subsequente
da viagem não feita. Nada disso é sério.

Perdi o relógio de mamãe. Ah! E nem quero
lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.

Perdi duas cidades lindas. E um império
que era meu, dois rios, e mais um continente.
tenho saudade deles. Mas não é nada sério.

 — Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo
que eu amo) não muda nada. Pois é evidente
que a arte de perder não chega a ser mistério
por muito que pareça (Escreve!) muito sério.


Eis um ótimo momento para refletir sobre aquele que talvez seja o maior medo da humanidade: perder. 

Sentimos apego, procuramos controle, segurança. E devemos entender que nada disso é líquido e certo - apenas perder. Mas, do mesmo jeito como a destruição é criação, perder é ganhar.

O apego nos impede de sentir isso verdadeiramente.

Então, aprendamos a perder. :)

(Estou com sono, por isso não vou desenvolver o tema por ora, mas fica a reflexão! Boa noite!)

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