segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

O presente do indicativo


Vivemos no presente, uma linha tênue não quantificável que separa os fatos passados do futuro incerto. O que é o presente? Talvez um segundo seja a primeira representação para a qual recorremos, mas por que razão?

O que é um segundo se não for aquilo que parece se esvair em nossas mãos quando tentamos reter, como a água em seu estado líquido?

O que é um segundo para seres vivos que vivem apenas 12 horas?

O que é um segundo para reações químicas, que são tantas?

O que é um segundo para o planeta Terra, que conta bilhões de anos?

O presente é apenas o agora. Mas qual “agora”?

Não podemos contá-lo – apenas vivê-lo. Podemos chamar tudo o que passou de passado ou pretérito, e nomear o desconhecido como futuro e, quanto fazemos isso, permanecemos em um presente que não quantificamos.

Então, por que padecer das mazelas de viver fora de nosso tempo?

É difícil. O passado dói e o futuro pesa. Mas não há outra saída se quisermos construir uma vida que aproveite os três tempos que conhecemos e suas ramificações – o futuro do pretérito, o passado imperfeito e o mais-que-perfeito, especialmente quando o modo é o indicativo.

É um exercício constante. A humanidade há muito chegou ao ápice do pensamento: a capacidade de planejar a longo prazo. Nós temos essa capacidade, que muito bem nos serviu. Somos os únicos animais – pelo menos, até o ponto em que conhecemos – capazes de planejar o que faremos a longo prazo. Somos capazes de fazer projeções desde o que e onde vamos almoçar até como queremos viver daqui a dez, vinte anos.

Nós planejamos toda uma vida, e nos aborrecemos cada vez que alguma coisa fatalmente sai do script. Nós nos tornamos tão refinados na arte de planejar que acabamos por sofrer devido ao nosso próprio planejamento. Além de lidar com frustrações, lidamos com possibilidades futuras de fracasso que sequer chegaram a se concretizar – que estão localizadas ali, no futuro, em uma cadeia de possibilidades.

Planejamos tanto que sofremos antes da hora. Planejamos tanto que, antes de o primeiro passo acontecer, já julgamos o plano por fracassado. Nós possuímos o dom de sofrer pelo que não aconteceu.

Então as batalhas que travaremos é contra o lado ruim de nossa própria habilidade. Não existe uma receita ou meia dúzia de palavras mágicas – apenas um desejo constante de mudar.

Porque a mudança coloca cada tempo em seu lugar, e então podemos aproveitar a vida em sua totalidade. Somos servidos de três tempos verbais, e queremos aproveitar cada um deles em sua totalidade, incumbindo-os do que lhes cabe. Ao passado, as boas memórias e as lições; ao futuro, saudáveis possibilidades; e ao presente, a capacidade de ação que todos possuímos.

Não vale deixar a capacidade de ação para o passado, possibilidades para o presente e boas memórias para o futuro!

Então… como proceder?

Ora, todos podemos ter nossos próprios truques quando a pressão aumenta: meditar, procurar alguma distração, exercitar a própria concentração. No geral: exceder as próprias expectativas, e não cair em culpa e arrependimento quando alcançarmos nossos limites. Porque eles existem.

E qual a lição de hoje? Quando você está se sentindo ou muito ansioso, ou muito culpado, ou perdido… já parou para pensar que você está misturando os tempos?

Quem sabe, ao perceber isso, não consiga encontrar um jeito de se tranqüilizar?

É o que tenho feito.

(Ou tentado fazer.)

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